A Careta do Cipó
Na ocasião da Guerra pela Independência da Bahia, alguns pais preferiram esconder seus filhos para que eles não fossem para os campos de batalhas, os rapazes com idade de servir á Pátria, foram à contra gosto na maioria escondidos num lugar conhecido por “Furado”. Sem ter o que fazer, o tempo que ficaram escondidos os rapazes ocupavam o tempo com artesanatos e brincadeiras, inclusive com a brincadeira da Careta Do Cipó. Que era na verdade um treinamento de guerra.
A Careta Do Cipó era uma espécie de camuflagem onde os guerreiros mascarados perseguiam os soldados inimigos com açoites de cipó. Os bravos homens negros do Acupe anônimos e desconhecidos guerreiros da independência, acostumados e conhecedores da região, embrenhavam-se nas matas, aproveitavam quando as tropas inimigas dormiam no acampamento para promover noites de terror e selvagerias. Quando algum soldado mais corajoso ousava correr atrás deles, por dentro da mata, terminava atraído para uma emboscada, ou caia em armadilhas com direito a uma desmoralizante surra de cipó, assim sonhavam aqueles rapazes.
Acredito que após a Independência da Bahia, a brincadeira continuou como forma de comemoração, no mês de julho, durante décadas, os homens caracterizados com suas caretas, encenava uma perseguição aos soldados inimigos, onde o inimigo era perseguido, amarrado, arrastado e “cipotiado” pelas ruas do Acupe.
Com o passar dos anos, precisamente na década de 1940, é provável que os figurantes que representavam os soldados inimigos, desapareceram das apresentações, motivados pelos maus tratos oferecidos a eles pelas Caretas Do Cipó, que se excediam nas humilhações impostas. Sem estes figurantes as Caretas Do Cipó, passaram a usar pessoas comuns para a encenação.
Esse tipo de comportamento gerou muitas queixas na Delegacia de Policia, por pessoas que foram obrigadas a participarem da brincadeira a contra gosto. Existe relato de pessoas que tiveram as casas invadidas, a honra da família ameaçada, e que até o Padre João Argolo, quando jovem, estava a estudar na porta de casa quando foi surpreendido por um grupo de Careta Do Cipó, e foi contra a sua vontade, amarrado, arrastado e açoitado pelas ruas do Acupe. Na época alguns desordeiros foram presos e a careta foi proibida de sair às ruas, passou a ser perseguida pela policia, tornando-se assim uma contravenção e quase desapareceu. Mesmo assim, hoje, décadas depois, graças a essa manifestação popular das crianças, a Careta Do Cipó continua viva, marginalizada por décadas atrás, porém resgatada pela inocência das crianças que sem saber dessa passagem negra da história, não abre mão de homenagear seus verdadeiros heróis.
As Caretas Do Cipó, são feitas de papel marche; São mascaras pequenas para dar mobilidade, acompanha mortalhas de qualquer cor ou macacões, trapos, camisas de mangas compridas e calças surradas, luva e o inseparável cipó feito de galhos de árvores nativas. Hoje as mascaras de papel marche estão sendo substituídos por mascaras de borrachas, de super-heróis, fantasmas, monstros, bruxas...
Considero a Careta Do Cipó uma tradição, embora descaracterizada, por usar também mascaras de borrachas. A Careta Do Cipó é vista no mês de julho, todos os domingos numa verdadeira manifestação popular, onde as crianças brincam sem precisar de convocação ou organização, todos participam, basta querer, é bem democrático, se você quiser brincar, a senha é correr quando avistar uma Careta Do Cipó, que ela corre atrás; se não, fique parado que ela não te enxerga.
Agora se você não quer ser figurante e quer ser Careta Do Cipó, está esperando o que? Traga sua mascara, venha brincar sem violência, lembre-se que é apenas uma brincadeira, um faz de conta, sem violência a Careta Do Cipó continua viva.
Obra protegida por direitos autorais.
Referencias:
- Agnaldo Barreto;
- Espedito Argôlo;
- Evilácio Argôlo.
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