Acupe - Nego Fugido, Identidade. | O Bom Do Acupe | Santo Amaro BA

Nego Fugido
Identidade, pela diferença ou diversidade?
Monilson dos Santos Pinto
Coordenador de arte-educação

O Nego Fugido é uma manifestação da cultura popular que há mais de cem anos é mantida pelos pescadores de Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação. Uma espécie de catarse pública que, ao misturar elementos da dança, teatro, música e declamação, conta uma versão peculiar da história do Brasil que compreende a aquisição da liberdade pelos negros como um processo de revolta, luta e resistência. Nessa narrativa, entrelaça-se a memória coletiva da comunidade, a prática da pesca artesanal e as práticas religiosas e culturais afro-brasileiras do recôncavo baiano.


Há mais de um século, sempre no período do mês de julho, as ruas do distrito de Acupe transformam-se num grande cenário a céu aberto, para o Nego Fugido, que se apresenta ao lado das mais variadas manifestações de cultura popular como Samba de Roda, Mandus, Bombachos, Burrinhas, grupos de Capoeira, Maculelê e Caretas.

Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação, é uma comunidade quilombola encravada no fundo da Baia de Todos os Santos, com uma população de mais ou menos 13 mil habitantes, na sua maioria pescadores e marisqueiras. Um território de cruzamentos de sistemas simbólicos africanos, europeus e indígenas. Polo agregador de ritos e costumes, berçário das mais variadas manifestações culturais e artísticas, sem, contudo, perder sua marcante identidade afro-brasileira, características que foram fundamentais para a formação da identidade cultural da região. Um local ocupado por pessoas que compartilham a memória sobre o período da escravidão e que, através do Nego Fugido, externam suas próprias impressões sobre a instituição escravista e a forma pela qual o escravo teria viabilizado sua liberdade.

Nesse encontro (I encontro Vivências), proponho discussões a respeito de identidade, pertencimento, educação formal e informal, políticas públicas culturais e sociais, teatro político e estéticas de lutas sociais tendo como pano de fundo a narrativa do Nego Fugido, analisando-a como impressões que compõem a memória coletiva dos moradores de Acupe sobre as rebeliões de escravos ocorridas durante o século XIX no recôncavo baiano, refletindo sobre como essas lembranças do passado articulam-se aos problemas sociais , culturais e políticos vividos pela comunidade atualmente, além de discutir sobre a importância da manifestação para a educação e formação da identidade do população acupense.


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