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Ora Mas!
"Esse conto é uma ficção, Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é uma mera coincidência."
Teimosa!
Namoradeira!
Ah! Esse último adjetivo, Naninha sabia como ninguém, conhecia todos os becos escuros e desertos do Acupe.
Quando anoitecia a moça se arrumava para sair, ninguém segurava, não adiantava a mãe e o pai pedirem, que ela logo dizia:
- Ora mas!
A mãe dela Dona Crescência tinha muito que rezar, naquela idade, pois não era mais nenhuma adolescente, os rapazes de futuro já estavam comprometidos, muitos com esposas, noivas ou namoradas, outros estudando fora alguns até no exterior, mas Naninha não estava nem ai.
Lembro um dia estava na porta da padaria quando a mãe dela, Dona Crescência, chegou e perguntou para uma baiana que vendia acarajés, se a moça havia passado por ali.
A baiana tentou responder, mas foi interrompida por um sujeito mau caráter, que em voz alta falou:
- Tem um cara "escalifando" um negrinha, no beco do cemitério, a bichinha chega "tá" chiando, deve ser ela!
Dona Crescência envergonhada, saiu de cabeça baixa sem dizer nada.
Mas Naninha era uma moça muito bonita e adorada até pelas crianças, e quando entrava numa roda de samba, a moça era um show a parte, um espetáculo de sedução e sensualidade, em meio aos requebrados e umbigadas a moça fazia a festa, e o povo delirava e gritava num só coro:
- Vai Naninha, vai Naninha, até o chão Naninha!
Certo dia de manhã bem cedo, alguém lhe bateu a porta, a mãe Dona Crescência atendeu, era um homem alto, branco, bem vestido, educadíssimo, fez questão de apertar a mão de todos os presentes e resumiu:
- Serei breve! Sou dono de CIA de danças regionais, estou formando grupos de dança, para apresentações em Sauipe, essa semana tive o prazer de assistir a um espetáculo de dança de Naninha, e fiquei encantado, tenho uma proposta de trabalho para Naninha, irrecusável, para que ela faça parte do meu corpo de dançarinas, além de um bom salário, hospedagem no melhor hotel para ela e para quem ela queira levar.
A mãe da moça fez uma rápida retrospectiva da vida da filha e não hesitou:
- Vai minha filha, Deus te abençoe, os filhos a gente cria para o mundo, Nossa Senhora da Soledade ouviu as minhas preces.
Naninha apenas falou:
- Ora mas!
Depois deste dia ninguém mais viu Naninha, anos se passaram, e quando alguém perguntava por ela, a mãe respondia:
- "Tá" bem, "tá" melhor que se estivesse aqui, liga pra mim todos os dias, é um exemplo de filha, é a melhor filha do mundo!
Naninha conquistou o mundo, viajou a trabalho para a Europa, fez cursos, conheceu muita gente, fez muitos amigos, aprendeu outras culturas, ficou conhecida internacionalmente, namorou muita gente famosa, foi convidada até para integrar o corpo de dançarinas do Domingão do Faustão, mas o noivo o deputado federal João José Margalhães não aprovou:
- Oi comadre, Naninha ligou?
Perguntou a madrinha de Naninha, Dona Gertrudes.
- Ligou comadre, o noivado com o deputado está indo bem, ela falou que no fim do ano, depois que se casar, vai deixar de ser Naninha, vai passar e se chamar Dona Nana Margalhães, e eu ainda falei com ela sobre as coisas absurdas que andam acontecendo aqui no Acupe, e ela me respondeu:
- Ora mas "mainha"! Já falei pro meu noivo, o João, e ele já está tomando providências para acabar com esse pouca vergonha no Acupe, tem colegas dele contra, estão argumentando que ele está querendo privatizar os becos do Acupe, mas as grades já estão prontas, o prefeito deu o sinal verde, e o governador já ofereceu uma força policial se for preciso, e tem mais uma coisa, as grades só, é pouco, eu quero também o beco todo iluminado, com lâmpadas a vapor de mercúrio e monitoramento 24hs, vou mandar fazer uma placa com aqueles dizeres:
Sorria, você está sendo filmado!
- Quem diria em comadre, quem te viu quem te vê!
- É... Quem foi Naninha!
- Ora mas! "Tá" amarrado!
- "Tá" amarrado mesmo, é como dizia minha vó:
"Quer ver um nego bem amarrado, bota outro nego pra amarrar”.
Obra protegida por direitos autorais.
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