O Compadre e o Urubu
Passei minhas férias quase todas no Acupe, quem sabe todas, não tenho lembrança de ter passado em outro lugar.
Lembro de um detalhe curioso para mim que era criança nesta época, não entendia porque tinha luz elétrica o dia todo, mas de tardinha na hora de escurecer, o fornecimento era interrompido e a gente passava a noite toda no escuro, salvo pelo auxilio luxuoso dos candeeiros, lampiões, e dos castiçais que davam um toque especial a aquelas noite.
Passávamos parte das noites conversando e contando casos, muitos casos. Um dos casos que eu nunca me esqueço é o do urubu, Minha avó Bete gostava, e "cutucava" meu avô:
-Conta aquele Gonçalo, do urubu!
Meu avô Gonçalo, com sua inconfundível paciência contava:
-Eu estava sentado aqui na porta, umas oito horas da manhã, quando meu compadre, passou com a espingarda no ombro e com um urubu pendurado no cano, ai eu falei pra ele:
-Joga isso fora compadre, isso não se come não!
Então ele me disse:
-Atirei no que vi, matei o que não vi!
Que havia saído muito cedo para caçar, e estava lá na coroa, na tocaia de um patão, quando deu mira tacou fogo. O patão milagrosamente escapou, porém um urubu que estava passando recebeu a bala perdida.
-Ai, eu me lembrei de uma passagem da bíblia que diz "que o homem só deve matar para saciar sua fome". Eu me sentir na obrigação de trazer a caça para casa.
Então eu disse pra ele:
-Compadre, se o senhor pensa em cozinhar esse bicho, vai perder tempo, o bicho é duro,não amolece, parece cana. O senhor vai gastar sua lenha toda e não vai dar resultado.
-Meu compadre abaixou a cabeça sacudiu para um lado e para o outro num gesto de desolação e seguiu para casa.
Quando mais tarde, passando pela porta dele notei dois cachorros brigando pela posse de algo que parecia um frango, e que na verdade era o dito urubu que o compadre havia cansado de cozinhar, e jogou no lixo.
-Na manhã seguinte encontrei o compadre lá no porto, eu estava ajeitando as velas do saveiro Antonino, ele se aproximou e comentou:
-É compadre, a lancha ficou bonita!
-Ficou muito, e o urubu?
-Nem te conto. O senhor tinha razão! Não pude comer da carne, mas bebi do caldo... Por sinal muito bom, uma delícia!
Obra protegida por direitos autorais.
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2 Comentários:
Ótimo testo, ri muito!
Anônimo é um otimo texto sim. Obrigado pelo comentario!
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