Seô Mata Sete
Lá pelos idos de mil oitocentos e não sei quanto, chega para um engenho do Acupe, um escravo vindo de uma outra região desconhecida, cercado de muita segurança, por se tratar de um escravo muito perigoso e temido por muitos, tinha fama de destemido capoeirista, Seô Jõao que atendia também por João Mata Sete era temido por capitães do mato, capatazes e caçadores de escravos. Quando o capataz chegava na senzala, pela manhã e recrutava os homens para o trabalho no engenho da cana de açúcar, o Seô Mata Sete era sempre o primeiro a se apresentar para o trabalho, agora lá no canavial o nêgo dava um jeito de sumir, o capataz perguntava para os outros negros, por Seô Mata Sete, e ouvia sempre a mesma resposta:
- Sei não io io!
- Vi não io io!
Quando era hora de voltar para a senzala, Seô Mata Sete se misturava aos outros negros, com a fizionomia de poucos amigos e com um jeitão de bicho do mato, que nem o capataz e o capitão do mato, tinham coragem de abordá-lo.
Lembro, o capataz dizer, esse nêgo é escorregadio, escorrega do trabalho, escorrega mais que sabão de mula!
Num certo dia, como de costume, os homens do canavial trabalhando, o capataz chegou, olhou, e falou:
- A função é de oito homens, aqui só tem sete, quem é que não está trabalhando?
Perguntou o capataz aos outros negros. Neste momento um negro se aproxima do capataz e fala:
- Capataz vós me cê, ainda não atentou que numa turma de oito, falta um, só pode ser Seô Mata Sete, ele mata os sete homens de trabalhar enquanto ele dormi lá embaixo do pé de murundú.
O capataz foi até o pé de murundú e contastou Sêo João Mata Sete dormindo em sono profundo, e se babando mais que um epiléptico, o capataz gritou:
- Nego, sabão de mula! A mim tú não enganas! Istopô dos infernos!
Então mais rápido que um corisco, Seô Mata Sete se levantou, limpando a baba da cara, fez dois gingados de capoeira para um lado e para o outro, deu uma cabeçada bem no meio do peito do capataz, que caiu no chão estatelado sem esbouçar nenhuma reação. Seô Mata Sete sumiu no mato, dando gargalhadas, dessas gargalhadas gostosas que agente está acostumado a ouvir aqui no Acupe, e ninguém mais o viu por essas bandas.
Obra protegida por direitos autorais.
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